Perda auditiva: o que é, tipos, sinais, causas, tratamentos, diagnóstico e prevenção
Perda auditiva é a diminuição parcial ou total da capacidade de ouvir. Pode acometer um ou ambos os ouvidos e ser provocada por diversos fatores, entre os quais se destacam a presbiacusia (relacionada à idade) e a exposição a ruídos altos. Em alguns casos é reversível, como quando é causada por acúmulo de cerume ou infecções.
A perda de audição é um dos distúrbios sensoriais mais comuns na população. Entretanto, ainda há um enorme desconhecimento sobre o assunto, especialmente no que diz respeito à prevenção e aos cuidados relacionados à saúde auditiva.
Estudos reunidos pelo NIDCD (National Institute on Deafness and Other Communication Disorders), revelam que a idade é o preditor mais forte de perda auditiva entre adultos, seguida pela exposição a ruídos altos, geralmente no trabalho.
O que mais tem chamado a atenção nos últimos anos, porém, é o crescimento do número de diagnósticos de perda ou lesão auditiva permanente em jovens adultos por causas evitáveis, como uso indiscriminado de fones de ouvido em volume alto por longos períodos.
Dados da OMS projetam que mais de 1 bilhão de jovens correm o risco de desenvolver perda auditiva permanente devido a essa e outras práticas inseguras.
Falamos, portanto, de uma questão realmente séria, principalmente quando consideramos os impactos sociais e cognitivos que essa condição pode gerar quando não tratada e devidamente acompanhada por especialistas. Aproveito para adiantar, inclusive, que existem recursos e tratamentos para todos os tipos e níveis de perda auditiva.
Neste artigo, trago uma abordagem completa dessa questão, incluindo causas, tipos, diagnósticos, tratamentos e prevenção da perda de audição. São informações muito importantes, seja você uma pessoa com perda auditiva, seja alguém com audição saudável e que quer se prevenir. Boa leitura!
Conteúdo:
- O que é perda auditiva?
- Quais são os tipos de perda auditiva?
- Quais são os níveis de perda auditiva?
- Quais são os sintomas e sinais de perda auditiva?
- Quais são as causas da perda auditiva?
- Quais são os impactos da perda auditiva permanente?
- Quais são os tratamentos disponíveis para a perda auditiva?
- Como é feito o diagnóstico da perda auditiva?
- Quando procurar ajuda médica?
- Como prevenir a perda auditiva?
O que é perda auditiva?
Chamamos de perda auditiva a diminuição da capacidade de uma pessoa ouvir e compreender sons. Pode ser uma condição reversível ou permanente e sua gravidade é variável.
É preciso esclarecer que perda auditiva não é o mesmo que surdez. Pessoas com perda auditiva profunda e que não escutam praticamente nada são consideradas surdas. Já aquelas que preservam parte de sua capacidade auditiva são chamadas de deficientes auditivos.
Há também pessoas com lesões ou perda auditiva muito discreta que só descobrem essa condição ao realizar testes. Ou seja, o fato de uma pessoa não apresentar os sintomas ou sinais típicos desse tipo de distúrbio não garante que ela não o tem.
A perda auditiva acontece quando há alguma obstrução no canal auditivo, quando há doenças que acometem o ouvido médio e comprometem a condução do som ou quando há um dano em estruturas do ouvido interno que comprometem a transmissão do som para o cérebro. Tudo isso nos leva ao próximo tópico.
Quais são os tipos de perda auditiva?
Seja em quadros reversíveis, seja em casos permanentes, classificamos a perda auditiva em três tipos: condutiva, neurossensorial e mista (quando envolve os dois tipos anteriores). A seguir, explico melhor cada um.
Perda auditiva condutiva
Na perda auditiva condutiva, algo compromete a condução do som pelo canal auditivo, impedindo que ele atinja devidamente as estruturas sensoriais que geram os sinais elétricos que são enviados ao cérebro.
Geralmente ocorre quando há alguma obstrução ou lesão no canal auditivo externo, no tímpano ou no ouvido médio.
Perda auditiva neurossensorial
Na perda auditiva neurossensorial o som se propaga corretamente pelo ouvido interno, mas não é “traduzido” em impulsos nervosos pelas células sensoriais (perda sensorial) ou não é conduzido para o cérebro (perda neural).
A distinção entre perda sensorial e neural é muito útil para fins diagnósticos, porém, na maioria dos casos, não conseguimos defini-la, mesmo realizando exames complementares. Quando não é possível distinguir, a perda auditiva será dada como neurossensorial, por não sabermos exatamente onde ocorreu a lesão.
Perda auditiva mista
A perda auditiva mista, como o termo esclarece, é aquela que envolve os dois tipos anteriores. É o tipo mais raro e, geralmente, está ligada a doenças que além de comprometer a condução do som, também comprometem estruturas sensoriais do ouvido interno.
Quais são os níveis de perda auditiva?
Também podemos classificar a perda auditiva de acordo com a média dos limiares de 500 Hz, 1 Khz, 2khz e 4Khz na audiometria tonal, sendo esse dado importante para a escolha do tratamento. Temos, então, as perdas auditivas:
- leve: quando a média dos limiares forem de 20 a 34,9 dB (o paciente pode apresentar dificuldade para ouvir em locais ruidosos);
- moderada: quando a média for de 35 a 49,9 dB (o paciente já pode ter alguma dificuldade de ouvir o que foi dito em uma intensidade normal);
- moderadamente severa: quando a média for de 50 a 64,9 dB (o paciente só consegue ouvir em uma intensidade mais alta);
- severa: quando a média for de 65 a 79,9 db (não entende a maioria das conversas e pode ter dificuldade de ouvir sons elevados);
- profunda: quando a média é de 80 a 94,9 dB (dificuldade extrema em ouvir mesmo em alta intensidade);
- perda auditiva completa: quando a média é acima de 95 dB (não consegue escutar nenhuma conversa e nenhum som ambiental).
Quais são os sintomas e sinais de perda auditiva?
A perda auditiva pode ocorrer de forma súbita, como após a exposição a um ruído muito alto, como uma explosão ou disparo de arma de fogo. Na maioria dos casos, porém, o seu desenvolvimento é gradual, muitas vezes imperceptível pelo paciente, no princípio.
É comum, por exemplo, que os primeiros sinais de perda de audição sejam percebidos pelas pessoas que convivem com o paciente, antes que ele mesmo se dê conta de sua condição. Alguns sinais que merecem atenção são:
- dificuldade de compreender conversas: pessoas com algum nível de perda auditiva costumam apresentar dificuldade para entender falas, especialmente em ambientes ruidosos, o que os força a pedir frequentemente para repetir frases;
- volume de aparelhos aumentado: outro sinal clássico de perda auditiva é a necessidade de aumentar o volume da TV, do rádio e de outros dispositivos acima do habitual para compreender melhor o som;
- alterações na percepção de sons agudos ou graves: outro sinal de perda auditiva é a dificuldade de compreender sons em determinadas frequências ou se incomodar com ruídos que antes não lhe causavam incômodo (hiperacusia);
- isolamento social: com os novos desafios impostos na conversação, o paciente com perda auditiva tende a se isolar para evitar se esforçar ou se constranger nas conversações.
Um sintoma muito comum em pessoas com algum tipo de lesão ou perda auditiva é o zumbido no ouvido, que é a percepção de um som sem uma fonte sonora externa. Esse ruído fantasma pode se apresentar de diversas formas e se assemelhar ao som de insetos, de aparelhos elétricos ou de água corrente, por exemplo.
Outros desconfortos auditivos também são típicos, como sensação de ouvido tapado e a, já citada, hiperacusia, que é a sensibilidade aumentada a sons de intensidade moderada.
Quais são as causas da perda auditiva?
Como dito no princípio, as principais causas de perda auditiva são o envelhecimento e a exposição a ruídos altos. Outras causas típicas são as infecções e o acúmulo de cerume, sendo este último a causa tratável mais frequente.
Entre os diagnósticos menos comuns, temos doenças autoimunes e congênitas, doenças hereditárias, como a otosclerose, substâncias que agridem o ouvido (produtos ototóxicos) e tumores.
A seguir, esclareço as causas mais comuns, que são aquelas que mais merecem a nossa atenção.
Presbiacusia (perda auditiva relacionada à idade)
A presbiacusia é a causa mais comum de perda auditiva e, geralmente, se apresenta como uma diminuição gradual da capacidade de ouvir sons em frequências mais altas em relação às mais graves.
Além do envelhecimento propriamente dito, também devemos levar em consideração fatores genéticos e a exposição a ruídos, tanto no presente, quanto ao longo da vida do paciente.
Ruído
A exposição a ruídos altos é a segunda causa mais comum de perda auditiva permanente. Breves exposições a sons muito altos são capazes de causar lesões irreversíveis nas células sensoriais do ouvido interno, desencadeando uma perda auditiva súbita.
Na maioria dos casos, porém, a perda de audição evolui de forma gradual devido à exposição frequente a ruídos altos por longos períodos. Embora seja mais frequente em profissionais expostos ao som de máquinas e equipamentos, pode se dar também por causas evitáveis, como o uso de fones de ouvido em volume alto por longos períodos ou eventos com música muito alta.
Observamos que algumas pessoas são mais suscetíveis à perda auditiva e a sintomas associados, como o zumbido, ainda que todas as pessoas, sem exceção, estejam sujeitas a isso quando expostas a sons muito altos por longos períodos e de forma frequente.
Infecções
As infecções são também uma causa comum de perda auditiva, especialmente em crianças que as apresentam de forma recorrente (geralmente a otite média). Doenças como a Labirintite podem deixar esse tipo de sequela em alguns casos, embora seja um evento muito raro.
A maioria dos pacientes apresenta capacidade auditiva reduzida durante o tratamento, mas se recuperam completamente dentro de algumas semanas.
Cerume
Como dito, o cerume é a causa tratável mais comum e acomete, principalmente, pessoas mais velhas. Aqui, é importante destacar que a maioria das pessoas não precisa remover a cera do ouvido e, portanto, essa não é uma medida de prevenção para a perda auditiva.
Somente uma parcela muito pequena da população tende a apresentar uma produção aumentada de cerume que exige limpeza frequente ― que, por sinal, deve ser sempre realizada por um médico, em consultório.
Algumas condições também podem estimular o acúmulo aumentado de cera e de material orgânico, como a dermatite seborreica e a psoríase, que estimulam a descamação da pele da orelha, aumentando as chances de obstrução do canal auditivo.
Quais são os impactos da perda auditiva permanente?
A perda auditiva pode afetar a capacidade de uma pessoa de compreender conversas, ouvir sons cotidianos e interagir plenamente com as pessoas e o ambiente sonoro ao seu redor.
Sintomas associados, como o zumbido no ouvido, também contribuem para a frustração, o estresse e, muitas vezes, transtornos de humor em pacientes que começam a lidar com as limitações dessa condição.
Muitas vezes, o quadro pode afetar a qualidade de vida geral do indivíduo, tornando atividades cotidianas, como conversar, assistir TV, ouvir música e participar de eventos sociais, mais desafiadoras do que satisfatórias.
Por essa razão, o paciente frequentemente necessita de atenção multidisciplinar, a fim de ajudá-lo a lidar com essa condição e a recuperar a sua autoestima, a sua autoconfiança e, consequentemente, a sua produtividade e sua vitalidade no dia a dia.
Crianças com perda auditiva merecem atenção especial, dada a possibilidade da condição afetar o desenvolvimento da fala e também o seu desenvolvimento acadêmico e social.
Além disso, alguns estudos sugerem que a perda auditiva não tratada pode estar associada a problemas cognitivos e a um risco maior de demência.
Aproveito para reforçar que existem tratamentos para todos os tipos de perda auditiva. Falo sobre eles no tópico a seguir.
Quais são os tratamentos disponíveis para a perda auditiva?
Para quadros reversíveis, o tratamento consiste na solução do fator ou evento desencadeador. Em caso de cerume acumulado, por exemplo, deve-se providenciar a limpeza com um médico otorrinolaringologista. Em casos de infecção, deve-se tratar a doença que desencadeou o quadro.
Em alguns casos de perda auditiva condutiva, procedimentos cirúrgicos podem ser realizados a fim de corrigir lesões ou disfunções no ouvido médio. Na Otosclerose, por exemplo, uma cirurgia é realizada para colocação de uma prótese para substituição de um dos ossículos do nosso ouvido.
Para a maioria dos quadros de perda auditiva neurossensorial, os aparelhos de amplificação sonora são o recurso mais indicado. Tratamentos complementares, como a terapia sonora, também podem ser recomendados para lidar com sintomas associados, como o zumbido e a hiperacusia, que podem acometer uma parcela desses pacientes.
Procedimentos mais invasivos, como a introdução de implantes cocleares, só são indicados em casos de perda auditiva de grau severo a profundo ou que não responderam bem ao uso de aparelho de amplificação sonora.
A escolha do tratamento, portanto, dependerá do diagnóstico e das necessidades de cada pessoa.
Como é feito o diagnóstico da perda auditiva?
A audiometria é o principal método utilizado para diagnosticar e realizar o acompanhamento da perda auditiva. O objetivo do procedimento é determinar o tipo e o grau da perda de audição do paciente e ajudar o médico otorrinolaringologista a definir a melhor estratégia de tratamento, de acordo com o resultado.
Durante um teste de audiometria, o paciente é colocado em uma sala ou cabine especialmente projetada para minimizar o ruído do ambiente, onde recebe fones de ouvido especiais. O teste consiste na reprodução de uma série de tons ou sons a fim de determinar a menor intensidade (volume) de som que a pessoa é capaz de ouvir em diferentes frequências.
Além da audiometria, o diagnóstico também deve levar em conta o exame físico (para detectar obstruções ou infecção, por exemplo) e a história clínica do paciente. Em casos específicos, exames de audição complementares e exames de imagem também podem ser solicitados.
Quando procurar ajuda médica?
É importante procurar ajuda médica ao notar qualquer alteração na audição ou dificuldade para ouvir, especialmente quando sintomas típicos relacionados também se manifestam, como sensação de ouvido tapado e zumbido.
A avaliação médica é ainda mais urgente quando existem fatores que aumentam a probabilidade desse tipo de distúrbio, como idade avançada, histórico familiar de perda auditiva ou exposição recente ou frequente a ruídos altos.
A detecção precoce da perda auditiva permite que os tratamentos necessários sejam iniciados com antecedência, isso é especialmente importante em casos de perda auditiva súbita, nos quais medidas preventivas podem evitar o agravamento do quadro.
O médico otorrinolaringologista é o profissional mais indicado para fazer uma avaliação da audição e indicar o tratamento apropriado.
Como prevenir a perda auditiva?
Na maioria dos casos de perda auditiva, a reversão total do dano à audição é improvável, por isso a prevenção é o melhor meio de lidar com esse tipo de distúrbio. Esse é um ponto extremamente importante, pois a maioria das pessoas não se dá conta da importância desse cuidado até desenvolver algum problema relacionado.
Nós devemos preservar a nossa audição, e existem várias medidas que podem ser tomadas nesse sentido. Separei as principais delas para você conferir.
1. Evite a exposição prolongada e frequente a ruídos altos
Tenha cautela em ambientes com som muito alto, como shows, festas em locais fechados e ambientes de trabalho ruidosos.
Evite manter-se por longos períodos em locais onde o som é mais intenso (próximo a caixas de som e máquinas, por exemplo) e procure fazer pausas frequentes em algum ponto mais calmo para permitir que as estruturas do seu ouvido se recuperem.
2. Use protetores de ouvido
Quando não for possível evitar o ruído alto, utilize protetores adequados. Existem dispositivos para todos os tipos de necessidade e ocasiões, seja para ambientes de trabalho, seja para momentos de diversão e lazer.
Ao utilizar esses produtos, porém, muita atenção com a higienização, tanto do dispositivo, quanto do seu ouvido. Além disso, não é recomendável utilizá-los por muitas horas seguidas para evitar irritações e doenças. O canal auditivo deve se manter livre e arejado a maior parte do tempo.
3. Limite o volume de dispositivos de áudio
Essa é uma recomendação que toca, principalmente, os jovens. Sabemos, hoje, que o uso indiscriminado de fones de ouvido é uma das principais causas de perda auditiva e zumbido em jovens adultos.
A principal recomendação é limitar o volume do som para mantê-lo em um nível seguro (alguns dispositivos e aplicativos geram alertas quando esse limite é ultrapassado). Uma dica é dar preferência a dispositivos que isolam o som externo, reduzindo a necessidade de aumentar o volume para sobrepor ruídos externos.
Também não é recomendável utilizar esses produtos por longos períodos, de forma constante, não apenas para preservar a saúde do seu ouvido, como também para evitar isolamento social.
4. Evite introduzir objetos nos ouvidos
Embora seja um hábito comum para muitas pessoas, nós não devemos inserir objetos no canal auditivo, como chaves, canetas ou o famoso cotonete.
Esses objetos podem empurrar o cerume para dentro do ouvido e, em muitos casos, causar lesões importantes na região que, inclusive, podem desencadear perda auditiva.
5. Avalie possíveis efeitos colaterais de medicamentos
Como citado, alguns medicamentos podem causar danos à audição e você deve estar ciente desse tipo de efeito colateral. Consulte o seu médico sobre os possíveis riscos ao utilizar determinadas medicações.
6. Cuide da sua saúde em geral
Mantenha um estilo de vida saudável, mantendo uma dieta balanceada, fazendo atividades físicas regularmente e realizando o devido controle de eventuais condições médicas, como diabetes e hipertensão.
7. Faça exames auditivos
Não há orientação para a avaliação regular da audição em adultos saudáveis, mas esse cuidado é importante, especialmente quando existe algum fator de risco, como histórico familiar de perda auditiva, exposição a ruídos intensos ou idade avançada.
Concluindo, a perda auditiva é um distúrbio muito comum que, embora esteja ligado ao envelhecimento na maioria dos casos, está frequentemente relacionada a causas evitáveis. Por fim, devo ressaltar que, embora existam diferentes recursos e tratamentos, a prevenção é a melhor forma de evitar as eventuais consequências da perda auditiva.
Este artigo fica por aqui. Eu sou Nathália Prudencio, e se você deseja saber mais sobre mim e sobre o meu trabalho, não deixe de conferir o meu perfil no Instagram e meu canal do YouTube!