Doenças autoimunes causam perda auditiva, tontura e zumbido?
Tontura, zumbido e perda auditiva são sintomas típicos de diversos quadros de saúde, incluindo doenças autoimunes. Um quadro raro que ganha cada vez mais interesse na medicina é a Doença Autoimune da Orelha Interna (DAOI), que pode estar presente ou associada a doenças autoimunes sistêmicas, como lúpus e esclerose múltipla.
As doenças autoimunes são condições complexas que podem afetar diversos órgãos e sistemas, incluindo o sistema auditivo e vestibular, responsáveis pela nossa audição e pelo nosso equilíbrio. Nesses casos, o otoneurologista é um dos profissionais envolvidos no acompanhamento dos pacientes.
Entre os sintomas observados, a tontura, o zumbido e a perda auditiva se destacam como manifestações importantes, que podem acompanhar os demais sintomas de cada doença.
É importante entender as conexões entre essas condições para oferecer abordagens terapêuticas e tratamentos mais adequados e individualizados, com objetivo de lidar com a doença em si e com os sintomas auditivos e vestibulares envolvidos.
Neste artigo, mostro como as doenças autoimunes se relacionam com esses sintomas e apresento também um quadro raro, porém muito importante, conhecido como Doença Autoimune da Orelha Interna, ou apenas DAOI. Vamos lá?
Conteúdo:
O que são doenças autoimunes?
Doenças autoimunes são condições em que o sistema imunológico, responsável por proteger o corpo contra infecções e outras ameaças externas, passa a atacar células, tecidos e órgãos saudáveis do próprio organismo.
Normalmente, o sistema imunológico identifica e combate invasores — como vírus, bactérias e outros patógenos — através do reconhecimento de substâncias estranhas. Nas doenças autoimunes, o sistema imunológico passa a considerar componentes específicos do corpo como “invasores”, desencadeando uma resposta imune contra partes do organismo que deveriam ser protegidas.
Esse ataque indevido resulta na produção de autoanticorpos, que são anticorpos direcionados contra os próprios tecidos saudáveis. Como consequência, desenvolve-se um processo inflamatório que pode lesionar diferentes tipos de células, dependendo da doença autoimune em questão.
Embora as causas exatas das doenças autoimunes ainda não sejam completamente compreendidas, sabe-se que diversos fatores contribuem para o seu desenvolvimento, como componentes genéticos, ambientais e hormonais.
Doenças autoimunes podem causar tontura, zumbido e perda auditiva?
Como dito, as doenças autoimunes podem sim estar relacionadas a sintomas, como tontura, zumbido e perda auditiva. A seguir, explico em linhas gerais, como e porque isso acontece.
Doenças autoimunes podem causar tontura?
Sim, algumas doenças autoimunes podem causar tontura. A tontura causada por doenças autoimunes geralmente se deve à inflamação ou dano nos vasos sanguíneos que atendem o labirinto ou os nervos que se comunicam com essa estrutura, ou ainda, ao comprometimento do fluxo sanguíneo para o cérebro.
O sistema vestibular, que é o principal responsável pelo equilíbrio e orientação espacial, depende de sinais nervosos corretos e de um fornecimento sanguíneo estável para funcionar bem ‒ ou seja, qualquer inflamação ou interrupção nesses processos pode resultar em alterações, que incluem tontura e vertigem.
A tontura, nesses casos, pode variar de leve a intensa, dependendo da gravidade da inflamação ou do dano subjacente, e normalmente vem acompanhada dos sintomas gerais da doença autoimune em questão.
Doenças autoimunes podem causar zumbido?
O zumbido causado por doenças autoimunes geralmente está relacionado à inflamação dos vasos sanguíneos ou nervos que envolvem o sistema auditivo, mas pode ter outras causas.
Na Doença de Ménière, quadro que tem um componente autoimune em alguns casos, o sintoma está associado ao aumento de pressão do líquido dentro do labirinto, órgão localizado na orelha interna.
Doenças autoimunes podem causar perda auditiva?
Assim como a tontura e o zumbido, a perda auditiva causada por doenças autoimunes é geralmente provocada pela inflamação de órgãos, vasos sanguíneos, nervos que envolvem o sistema auditivo e, principalmente, de células sensoriais da cóclea ‒ uma estrutura em forma de espiral localizada no ouvido interno, responsável por converter ondas sonoras em impulsos nervosos.
Em algumas condições, como o lúpus ou a síndrome antifosfolipídica, o comprometimento do fluxo sanguíneo pode danificar a cóclea, levando à perda auditiva.
Em outros casos, como na esclerose múltipla, o ataque autoimune a regiões no cérebro onde emerge o nervo auditivo pode interferir diretamente na transmissão nervosa dos sinais auditivos, resultando em dificuldades auditivas. Esse último caso, porém, é muito raro.
Quais doenças autoimunes afetam a audição e o equilíbrio?
As principais doenças autoimunes associadas a problemas nos órgãos e no funcionamento do sistema vestibular e da audição incluem:
- Síndrome de Cogan;
- Doença de Ménière (não é considerada uma doença autoimune, mas pode ter componentes autoimunes em alguns pacientes);
- Esclerose Múltipla (em virtude de alterações no sistema nervoso central);
- Lúpus Eritematoso Sistêmico (LES);
- Síndrome Antifosfolipídica;
- Artrite Reumatoide;
- Vasculite;
- Doença Autoimune da Orelha Interna (DAOI).
Esta última nos chama mais atenção, pois é uma doença rara, geralmente de difícil diagnóstico, e que está diretamente ligada a um processo autoimune da orelha interna.
Doença Autoimune da Orelha Interna (DAOI)
A Doença Autoimune da Orelha Interna, ou DAOI, é uma condição rara que pode estar ligada a sintomas como tontura, zumbido e perda auditiva — inclusive, é considerada uma das poucas doenças cuja perda auditiva neurossensorial pode ser reversível.
Na DAOI, o sistema imunológico ataca por engano as células e estruturas da orelha interna, afetando o funcionamento do ouvido e, consequentemente, o equilíbrio e a audição. Essa resposta imunológica inadequada pode causar uma inflamação crônica, levando a danos progressivos na orelha interna.
Ainda não se conhecem as causas exatas da DAOI, mas acredita-se que a predisposição genética e fatores ambientais desempenham um papel no desenvolvimento da doença. Em muitos casos, a DAOI está associada a outras doenças autoimunes, como lúpus, artrite reumatoide e esclerose múltipla, sugerindo que pessoas com essas condições podem ter maior risco de desenvolver a doença.
Como é o tratamento dessas doenças?
O tratamento de sintomas como tontura, zumbido e perda auditiva depende da sua causa subjacente. Ou seja, o foco do tratamento deve ser a causa primária do sintoma, e não o sintoma em si.
Na Doença de Ménière, por exemplo, a tontura pode ser tratada com mudanças na dieta, redução do consumo de sódio e, em alguns casos, medicamentos. Já na DAOI, o tratamento frequentemente envolve o uso de medicamentos imunossupressores ou corticosteróides para reduzir a resposta imunológica e a inflamação.
A gestão eficaz do tratamento deve ser individualizada e adaptada às necessidades específicas de cada paciente, considerando a gravidade da doença e os sintomas apresentados por cada indivíduo.
Em todos casos, uma abordagem integrativa que inclua acompanhamento multidisciplinar é essencial. Além disso, medidas de apoio terapêutico também são muito úteis para ajudar o paciente a lidar com os aspectos emocionais e psicológicos associados aos sintomas persistentes, especialmente no contexto de doenças crônicas.