Enjoo do movimento: Cinetose | Dra Nathália Prudencio

Cinetose, ou tontura do movimento, é um quadro caracterizado por desconfortos estomacais, náuseas e vômitos durante viagens de carro, barco e avião, ou atividades que envolvem movimentos rápidos, como brinquedos em parques de diversão. Nos últimos anos, tem sido também muito relatada por pessoas que utilizam equipamentos de realidade virtual.

Você é do tipo que sente enjoo, tontura ou mal estar quando está em algum veículo, como carro, ônibus ou avião?

Esses sintomas podem ocorrer diante de qualquer atividade que provoque algum estímulo de movimento, mas a incidência varia significativamente de acordo com o veículo. 

Em aviões, por exemplo, o quadro não é tão comum, mas é muito frequente em navios que navegam em mares revoltos ou em experiências de gravidade zero, como em viagens espaciais ou em acrobacias aéreas.

Um fato interessante é que usuários de dispositivos de realidade virtual também costumam apresentar esses sintomas, mesmo fora de veículos.

Neste artigo, falo sobre a cinetose. Explico porque ela acontece, suas possíveis causas, quem é mais suscetível e quando esse evento merece maior atenção. Continue a leitura para conferir!

Conteúdo:

O que é cinetose?

A cinetose, conhecida como “enjoo do movimento”, é caracterizada por um conjunto de sintomas percebidos durante o movimento ou pela percepção de movimento. São eles: tontura, náusea, sudorese, suor frio, sonolência, dor de cabeça, palidez e vômito.

Esse quadro é extremamente comum em pessoas que fazem viagens em alto mar ― é citado em muitas obras clássicas como “mal do mar” ―, mas também é frequente em outros tipos de veículo, bem como em brinquedos de parques de diversão (como montanha-russa, gira gira e roda gigante), jogos de realidade virtual e até vídeos com movimentos rápidos.

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Quais são as causas mais prováveis desse quadro?

As causas da cinetose ainda não foram totalmente esclarecidas, mas sabe-se que os sintomas são desencadeados por um conflito nas informações sensoriais relacionadas à visão, ao equilíbrio e à propriocepção (orientação espacial).

Ao ler durante uma viagem de carro, por exemplo, a visão focada no livro imóvel à sua frente pode entrar em conflito com o movimento do veículo, que é percebido pelo sistema vestibular. 

O contrário também pode ocorrer. Quando o indivíduo está imóvel e os estímulos visuais de um vídeo ou de um jogo de realidade virtual indicam que ele está em movimento. Quando não há movimento real, alguns autores denominam o quadro como pseudocinetose.

É também possível o conflito entre movimentos de aceleração angular e linear. Em um ambiente de gravidade zero, por exemplo, a distorção do movimento esperado (flutuar em vez de cair) também pode desencadear a cinetose, assim como a falta de peso.

Por que algumas pessoas são mais suscetíveis do que outras?

A ocorrência de cinetose varia muito na população, mas alguns padrões são observados em estudos.

Os sintomas são mais comuns em mulheres e também em crianças que têm entre 2 e 12 anos de idade. No último caso, o quadro tende a melhorar com o passar dos anos. 

Outra curiosidade é que a cinetose é rara em lactentes que amamentam há menos de 2 anos e em pessoas acima de 50 anos que não a desenvolveram anteriormente.

Para a população em geral, alguns fatores podem contribuir para o surgimento ou agravamento do quadro, como:

  • exposição à monóxido de carbono ou outro gás que prejudique a oxigenação;
  • enxaqueca;
  • disfunções e doenças vestibulares;
  • transtornos do humor, como depressão ou ansiedade;
  • alterações hormonais (causadas pela gravidez ou pelo uso de contraceptivos, por exemplo). 
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Alguns estudos também sugerem a influência de fatores genéticos na suscetibilidade de pessoas à cinetose. 

Como evitar ou aliviar a cinetose?

A cinetose é uma resposta natural do organismo aos fatores desencadeadores já citados. Na maioria dos casos, tende a regredir naturalmente com a exposição prolongada ou frequente à experiência que funciona como gatilho.

Em todos os casos, a adaptação geralmente se dá em até poucos dias, inclusive para astronautas que experimentam situações extremas em viagens espaciais. Os sintomas, porém, podem retornar quando o indivíduo deixa de se expor à experiência que desencadeia o quadro por longos períodos.

Para pessoas que sofrem crises frequentes de cinetose, recomenda-se o uso de fármacos profiláticos (preventivos), como antidopaminérgicos e anti-histamínicos (como o Dramin). Em caso de crises graves ou vômitos intensos, podem ser indicados antieméticos e reposição de eletrólitos. 

Medidas simples, porém, podem prevenir os sintomas ou aliviá-los, como:

  • fazer refeições leves antes de viajar;
  • manter o olhar no horizonte (evitar manter o olhar fixo nos lados);
  • dar preferência para assentos na parte da frente dos veículos;
  • não ler ou usar o celular enquanto o veículo se movimenta;
  • respirar lentamente;
  • sentar em um local com bom fluxo de ar (perto da janela aberta ou da saída do ar-condicionado, por exemplo).

A cinetose em gestantes deve ser tratada tal como enjoos e tonturas são tratadas na gravidez.

Quando a cinetose merece atenção? 

O diagnóstico da cinetose é clínico, ou seja, é baseado na avaliação do paciente e seu relato na consulta médica. Na maioria dos casos, não requer intervenções, apenas orientações profiláticas, como as citadas anteriormente. Em casos mais intensos, podemos pensar na reabilitação vestibular, que é uma forma de expor o paciente de forma lenta e gradual a determinados estímulos para gerar habituação.

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Quando observamos sintomas atípicos no quadro, exames podem ser solicitados para diagnóstico diferencial com doenças vestibulares (quando queremos descartar outras possibilidades).

Merecem atenção pessoas idosas sem histórico de cinetose que apresentam tontura (ou vertigem) e vômitos intensos durante viagens, sobretudo aquelas que apresentam fatores de risco.

A cinetose, portanto, é um evento comum, caracterizado por palidez, dor de cabeça, náuseas e vômitos durante a movimentação passiva ou a percepção de movimento. Na maioria dos casos, os sintomas cessam com a adaptação, mas algumas condições podem fazer com que as crises sejam frequentes e intensas. Caso seja um incômodo constante, não deixe de consultar um otorrinolaringologista!

Este artigo fica por aqui. Eu sou Nathália Prudencio, e se você deseja saber mais sobre mim e sobre o meu trabalho, acesse meu perfil no Instagram e meu canal do YouTube! 

 


Sobre Dra Nathália Prudencio

Dra Nathália Prudencio é médica otoneurologista, especialista em tontura e zumbido. Saiba mais
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