Perda auditiva e declínio cognitivo: qual é a relação e como prevenir?
A perda auditiva não afeta apenas a comunicação, mas pode ter impactos na saúde cerebral. Pesquisas indicam que existe uma relação entre dificuldade auditiva e declínio cognitivo, aumentando o risco de demência.
A perda auditiva é uma condição comum, especialmente com o avanço da idade. No entanto, seu impacto vai além da dificuldade de ouvir sons e compreender conversas. Estudos recentes sugerem que problemas na audição podem acelerar processos degenerativos no cérebro e aumentar o risco de demência.
Uma pesquisa de grande relevância foi conduzida pela Universidade Johns Hopkins, nos Estados Unidos. O estudo acompanhou cerca de 600 adultos ao longo de 12 anos e concluiu que aqueles com perda auditiva tinham um risco significativamente maior de desenvolver declínio cognitivo. Indivíduos com deficiência auditiva leve apresentaram um declínio cognitivo 30% mais rápido, enquanto aqueles com perda auditiva moderada ou severa tinham um risco até cinco vezes maior de desenvolver demência em comparação com pessoas com audição normal.
A relação entre audição e cognição pode ser explicada por diferentes mecanismos. Algumas linhas de pesquisa sugerem que a causa pode estar ligada a uma espécie de “sobrecarga cerebral”. Quando a audição é prejudicada, o cérebro precisa se esforçar mais para interpretar os sons e preencher lacunas na comunicação. Esse esforço constante pode sobrecarregar áreas cognitivas essenciais, reduzindo sua eficiência ao longo do tempo.
Outro fator relevante é o isolamento social. Pessoas com perda auditiva frequentemente evitam interações por dificuldade em acompanhar conversas, o que leva à diminuição do estímulo cognitivo. O isolamento é um fator de risco conhecido para demência, pois a falta de engajamento social reduz a ativação de redes neurais importantes para a manutenção das funções cerebrais.
Além disso, a perda auditiva pode estar associada a alterações estruturais no cérebro. Estudos de neuroimagem demonstram que indivíduos com deficiência auditiva podem apresentar atrofia acelerada em áreas relacionadas à memória e à linguagem, como o córtex temporal e o hipocampo, regiões diretamente envolvidas no desenvolvimento de doenças neurodegenerativas como o Alzheimer.
Diante dessas evidências, o tratamento da perda auditiva é crucial na prevenção do declínio cognitivo. O uso de aparelhos auditivos, por exemplo, tem mostrado benefícios significativos na preservação da função cerebral. Um estudo publicado no Journal of the American Geriatrics Society revelou que adultos mais velhos que utilizavam aparelhos auditivos tinham taxas de declínio cognitivo semelhantes às de pessoas com audição normal
Além dos aparelhos auditivos, exercícios para aprimorar a compreensão sonora e estratégias para melhorar a comunicação podem ajudar a reduzir o impacto da perda auditiva na cognição.
Embora a perda auditiva não seja o único fator de risco para demência, é um dos poucos modificáveis. Detectar e tratar problemas auditivos precocemente pode reduzir os impactos no cérebro e melhorar a qualidade de vida.
Sendo assim, caso note sinais de perda auditiva, como dificuldade para entender conversas, necessidade de aumentar o volume de dispositivos ou zumbido no ouvido, não deixe de procurar um médico especialista para obter um diagnóstico confiável e para definir a melhor estratégia de tratamento para o seu caso.
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