Entenda o zumbido somatossensorial | Dra Nathália Prudencio

O zumbido é um sintoma comum em pacientes com disfunção temporomandibular (DTM) e outras desordens funcionais em estruturas musculoesqueléticas. Sugere-se a relação com o sistema somatossensorial quando o som percebido pelo paciente é ativado ou modulado ao realizar movimentos ou ao aplicar pressão em determinados pontos da cabeça, ombro ou pescoço, por exemplo.

Embora a perda auditiva seja o principal fator desencadeador do zumbido no ouvido na maioria dos pacientes, existem vários outros aspectos que precisam ser analisados e que também podem estar relacionados ao surgimento ou à piora do quadro.

A disfunção na articulação temporomandibular, por exemplo, é um diagnóstico frequente em pessoas com zumbido sem perda auditiva, embora as duas condições possam ocorrer juntas, o que é também comum. 

Na maioria dos casos, o paciente apresenta vários motivos para ter o zumbido no ouvido e, por isso, a investigação do sintoma deve ser abrangente.

Neste artigo, foco em um dos pilares do diagnóstico, que é a influência de fatores musculares no sintoma, mais especificamente as disfunções musculoesqueléticas nas regiões da cabeça, do pescoço e do ombro, e a relação entre essas desordens, o zumbido e o sistema somatossensorial.

Eu sei que o assunto parece muito técnico, mas o abordei de forma simples nos tópicos a seguir para que você entenda melhor esse quadro que tem sido cada vez mais comum nos consultórios de médicos e dentistas. Vamos lá?

Conteúdo:

A Disfunção Temporomandibular (DTM) pode causar zumbido no ouvido?

Sim. A disfunção da articulação temporomandibular (ATM), também chamada de Disfunção Temporomandibular ou apenas DTM, é uma condição comum em pacientes com zumbido no ouvido. 

Essa relação é estudada há muitos anos e, hoje, sabemos que alterações na musculatura cervical e na função dos músculos mastigatórios podem ter papel do surgimento, na modulação ou na piora do sintoma.

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Isso significa que pacientes com DTM apresentam maior risco de desenvolver o zumbido no ouvido e outros sintomas, como dor de ouvido ou sensação de ouvido tapado (plenitude aural), mas essa associação não é obrigatória. Nem todas as pessoas com Disfunção Temporomandibular desenvolvem zumbido, e nem todas as pessoas com zumbido têm DTM.

Da mesma forma, observamos pacientes sem perda auditiva que apresentam zumbido associado à Disfunção Temporomandibular, assim como pessoas com alguma perda ou lesão auditiva cuja DTM se apresenta como um fator associado ao zumbido, capaz de piorar o sintoma.

A relação entre essas condições, portanto, é complexa e pode variar de pessoa para pessoa. Por isso é fundamental a avaliação do paciente pelo médico otorrinolaringologista e por outros profissionais da saúde, como dentistas e fisioterapeutas.

Qual é a relação entre zumbido, ATM e sistema somatossensorial?

Vamos nos aprofundar só um pouquinho para que você entenda melhor as relações abordadas aqui. Antes de tudo, é preciso que você compreenda algumas definições:

  • zumbido: chamamos de zumbido a percepção de um som constante ou intermitente sem qualquer estímulo sonoro externo;
  • ATM (articulação temporomandibular): é a articulação localizada na região da face, responsável pelos movimentos de abrir e fechar a boca, bem como outras movimentações relacionadas à fala e à mastigação;
  • sistema somatossensorial: é o sistema responsável por captar estímulos externos (que geram sensações como tato, dor, temperatura, posição e orientação) e ajudar o nosso cérebro a entender o ambiente em que estamos e como nosso corpo responde a ele.

Existem vias neurais compartilhadas pelo sistema auditivo e pelo sistema somatossensorial, o que pode levar a interações entre eles. Alterações na articulação temporomandibular e em músculos associados podem afetar essas vias e causar sintomas auditivos como o zumbido, dor no ouvido e a sensação de ouvido tapado, por exemplo.

Outra hipótese é que a tensão muscular crônica, frequentemente associada à disfunção da ATM, pode afetar os músculos e tecidos ao redor da orelha, incluindo os músculos do ouvido médio. 

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Observe que fatores como estresse e ansiedade estão comumente relacionados ao aumento da tensão muscular, tanto em quadros de DTM quanto em outros tipos de desordens funcionais, como o bruxismo

Chamamos o zumbido de somatossensorial, especificamente, quando o zumbido é ativado ou modulado por pontos gatilhos miofasciais, que são bandas tensas da musculatura esquelética que, quando pressionadas, causam dor local e dor referida (que parte de outras regiões).

Quais são as principais causas desse tipo de zumbido?

O zumbido no ouvido, de forma geral, pode estar relacionado a fatores otológicos (ouvido), musculares, odontológicos, metabólicos (alterações em exames de sangue), farmacológicos (medicamentos) e psicológicos, entre outros, e um mesmo paciente pode apresentar mais de uma causa associada.

Focando em casos onde há influência da ATM e do sistema somatossensorial, relacionado a face e pescoço, o sintoma pode estar associado a uma série de causas, como:

  • mordida errada ou mastigação incorreta;
  • traumas na ATM, bem como processos inflamatórios e degenerativos;
  • características congênitas ligadas à formação da mandíbula;
  • má postura (especialmente em pessoas que usam computadores o dia inteiro);
  • hábitos disfuncionais, como morder os lábios ou roer unhas;
  • bruxismo (ranger ou apertar os dentes de forma involuntária);
  • distúrbios do sono ou poucas horas de descanso;
  • tensão muscular relacionada a estresse e ansiedade.

Entretanto, como dito anteriormente, a perda ou lesão auditiva é o principal fator associado ao zumbido no ouvido e a confirmação de alterações musculares não descarta essa possibilidade. A investigação do sintoma deve ser sempre abrangente e multidisciplinar.

Que características e sintomas associados merecem atenção?

A DTM é um diagnóstico comum em pacientes com zumbido que não apresentaram alterações auditivas ou vestibulares na avaliação otorrinolaringológica ― lembrando, mais uma vez, que todas essas causas podem surgir juntas no mesmo paciente! 

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Outras queixas frequentes relacionadas a esse tipo de zumbido e que contribuem para o diagnóstico são:

  • plenitude auricular (sensação de ouvido tapado);
  • dor no ombro, pescoço, cabeça ou pontos específicos da face;
  • ruídos ou estalos ao abrir ou fechar a boca; 
  • limitações ou travamentos ao mover a mandíbula.

É também importante observar se essas alterações surgem ou se agravam em decorrência de fatores emocionais, como períodos de maior estresse e ansiedade, para que a compreensão do quadro, assim como a estratégia de tratamento, seja a mais completa possível.

Como tratar o zumbido associado à DTM?

Assim como qualquer outro tipo de intervenção nesse tipo de sintoma, a abordagem terapêutica dependerá do diagnóstico do paciente. O médico otorrinolaringologista, junto ao dentista ou fisioterapeuta, deve elaborar uma estratégia específica de tratamento para as causas do sintoma.

De maneira geral, podem ser indicados exercícios para relaxamento da musculatura cervical, tratamento de pontos gatilhos miofasciais, correção de má postura, manipulação da musculatura dolorosa na face ou pescoço, uso de aplicativos que ajudam a evitar o apertar dos dentes ao longo do dia, correção de mordida, uso de placas oclusais (em casos de bruxismo), entre outras intervenções.

Sempre sugerimos, também, a adoção de um estilo de vida saudável: alimentação adequada, prática regular de atividades físicas, melhora da qualidade do sono e ajustes na rotina para reduzir o estresse e a ansiedade no dia a dia.

A relação entre zumbido, Disfunção Temporomandibular e sistema somatossensorial é complexa, mas conta com recursos e tratamentos para todos os casos. Não deixe de consultar um especialista!

 


Sobre Dra Nathália Prudencio

Dra Nathália Prudencio é médica otoneurologista, especialista em tontura e zumbido. Saiba mais
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