Hiperacusia, você sabe o que é? | Dra. Nathália Prudêncio

A hiperacusia é um distúrbio auditivo caracterizado pela intolerância aumentada a sons de intensidade moderada, que para a maioria das pessoas são considerados toleráveis. Muitos pacientes com o distúrbio costumam também apresentar zumbido no ouvido.

Você costuma se incomodar mais facilmente com os sons do que as pessoas ao seu redor? Você sente que certos ambientes com sons mais intensos passaram a lhe causar maior desconforto ou estresse auditivo?

Existe a possibilidade de você sofrer de hiperacusia, uma condição relativamente comum, mas que merece atenção, pois pode indicar lesões ou perda auditiva, bem como alguns tipos de disfunções e patologias otorrinolaringológicas.

Neste artigo, trago um esclarecimento sobre o assunto e orientações importantes, especialmente para aquelas pessoas cujo incômodo já afeta a sua qualidade de vida. Já adianto que existem muitos recursos e tratamentos para a hiperacusia, ok? Continue a leitura para saber mais!

Conteúdo:

O que é hiperacusia?

Hiperacusia é a sensibilidade aumentada a sons em volumes usualmente toleráveis, ou seja, o paciente se sente incomodado com sons de intensidade baixa ou moderada, que para a maioria das pessoas são considerados aceitáveis.

Embora o termo hiperacusia sugira algo como “audição aumentada ou excessiva” ― percepção que alguns pacientes têm sobre o distúrbio, inclusive ―, a condição diz respeito à tolerância do indivíduo ao volume do som e não a uma maior capacidade auditiva. Pelo contrário, a hiperacusia é frequentemente desencadeada por alguma perda ou lesão auditiva.

Ou seja, o paciente com hiperacusia não escuta mais do que os outros. O seu incômodo auditivo se deve a uma sensibilidade aumentada a sons cuja intensidade não causa desconforto para a maioria das pessoas.   

Quais são os sintomas da hiperacusia?

Pessoas com hiperacusia tendem a evitar locais com sons relativamente mais altos ou se cansar mais rapidamente desses ambientes, e, além do incômodo, outros sintomas auditivos também podem surgir, como:

  • dor nos ouvidos ao se expor a sons intensos;
  • sensação de pressão nos ouvidos;
  • zumbido (percepção de um som, sem uma fonte sonora externa).
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Pacientes que desenvolvem a hiperacusia costumam relatar um aumento da sensibilidade auditiva a sons do cotidiano, como o ruído de uma televisão, de um ventilador ou do trânsito.

Não devemos confundir essa condição, porém, com outro quadro também importante, que é a misofonia.

Qual é a diferença entre hiperacusia e misofonia?

A misofonia é a intolerância aumentada a sons específicos e, geralmente, repetitivos, como cliques de aparelhos, mastigação, digitação, entre outros. Nesse quadro, porém, o paciente não apenas se incomoda, mas também apresenta reações emocionais negativas diante do som.

Na hiperacusia, portanto, há uma sensibilidade à intensidade dos sons devido a um distúrbio na via auditiva, enquanto na misofonia há uma intolerância seletiva devido ao contexto ou ativação emocional que aquele som gera. Um paciente com misofonia pode se desconcentrar por causa do ruído sutil de um aparelho elétrico, mas não se importar com uma música alta ou o som de uma avenida movimentada, por exemplo. 

Como o termo esclarece (“miso” significa ódio, repulsa ou aversão), a pessoa que sofre com misofonia costuma apresentar irritação intensa ao som que lhe incomoda. A reação negativa desproporcional não apenas compromete o foco do indivíduo, como pode desencadear outros sintomas, como taquicardia, sudorese e até pânico.

Quais são as causas da hiperacusia e da misofonia?

A hiperacusia é um distúrbio da vida auditiva que ocorre após alguma lesão ou agressão que essa via sofreu. É o que chamamos de ganho aumentado na via auditiva.

Existem várias causas possíveis, como infecções, uso de determinados medicamentos e algumas patologias que podem causar perda de audição, como a Doença de Ménière, bem como a exposição prolongada a ruídos de alta intensidade e perda auditiva súbita, entre outras possibilidades.

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As causas da misofonia, por sua vez, não estão relacionadas a qualquer alteração ou distúrbio na via auditiva, e, apesar de ainda não serem totalmente esclarecidas, acredita-se que o distúrbio esteja intimamente associado a alterações no sistema nervoso central. Fatores genéticos, histórico de experiências negativas e transtornos do humor já foram relacionados ao quadro.

Como é feito o diagnóstico desses distúrbios?

A hiperacusia é geralmente identificada por meio da história relatada em consultório pelo paciente e do limiar de desconforto ao som. A avaliação pode ser feita junto à audiometria para identificar o nível de decibéis que gera incômodo no paciente. Quando esse nível é reduzido, o quadro é caracterizado como hiperacusia.

Outros sintomas que podem vir associados a hiperacusia e que merecem atenção são o zumbido e a perda auditiva (que pode ser relatada como dificuldade de compreender falas ou sons, bem como o uso de aparelhos de som ou TV em volume mais alto do que o habitual, por exemplo).

Como destacado, pacientes com misofonia tendem a relatar irritação frequente e reações desproporcionais a determinados sons, e o diagnóstico é clínico, ou seja, pela história que o paciente relata no consultório.

Como tratar a hiperacusia e a misofonia?

Caso seja constatada alguma doença ou disfunção no quadro, o foco do tratamento será na correção das suas causas. Em quase todos os casos, porém, medidas devem ser tomadas para reduzir o desconforto do paciente ao som e prevenir a piora da condição.

Na hiperacusia, o tratamento consiste na terapia sonora e no aconselhamento feito junto a um profissional capacitado, geralmente um fonoaudiólogo com experiência nessa área. A terapia sonora poderá ser realizada com sons do ambiente ou por meio do uso de aparelho de amplificação sonora, principalmente em pessoas que já apresentam algum grau de perda auditiva. O paciente será submetido a exposição sonora de uma maneira lenta e gradual com o objetivo de dessensibilizar a via auditiva.

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Na misofonia, dada a sua relação direta com a resposta emocional do paciente, é sempre indicado o acompanhamento terapêutico com psicólogo. A Terapia Cognitivo Comportamental é um dos métodos indicados, especialmente quando o surgimento do problema está ligado a algum acontecimento passado. Além disso, é importante o tratamento de comorbidades psiquiátricas como ansiedade e depressão. 

Quando consultar um otorrinolaringologista?

Você deve consultar um médico sempre que observar alguma anormalidade na sua saúde auditiva, especialmente quando essa anormalidade já afeta o seu cotidiano e causa prejuízos em sua vida social ou profissional.

Distúrbios como a hiperacusia e a misofonia são comumente negligenciados por serem entendidos como uma questão de personalidade, “frescura” ou idade, em virtude do comportamento típico dos pacientes que os apresentam.

O diagnóstico, porém, é extremamente importante para que, a partir dele, medidas sejam tomadas para atenuar o incômodo, impedir que ele prejudique a qualidade de vida do paciente e, também, para evitar que o quadro não se agrave.

Ao suspeitar de hiperacusia ou misofonia, o médico mais indicado a procurar é o otorrinolaringologista. Entretanto, você pode optar por realizar uma investigação mais aprofundada consultando um otoneurologista, que é o otorrino dedicado às disfunções e doenças que acometem a via auditiva e o sistema vestibular e que, usualmente, causam tontura, zumbido e perda auditiva.

Quer conhecer melhor essa especialidade da medicina e saber quando procurar um otoneurologista? Então aproveite que está por aqui e confira agora o nosso artigo completo sobre otoneurologia!

 


Sobre Dra Nathália Prudencio

Dra Nathália Prudencio é médica otoneurologista, especialista em tontura e zumbido. Saiba mais
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