Mal do desembarque: o que é, sintomas, diagnóstico e tratamento
Mal do desembarque é um quadro caracterizado pela sensação constante de tontura ou balanço que melhora ou cessa com o movimento passivo, como ao andar de carro. Geralmente se instala após uma viagem de navio, trem ou avião.
Você já experimentou uma sensação de desequilíbrio, balanço ou tontura após desembarcar de um navio ou de um avião? Agora, imagine sofrer com essa condição por meses ou até anos!
A síndrome se apresenta de maneira oposta a um quadro muito mais comum, a cinetose, que é o enjoo em veículos em movimento. Pessoas com o mal do desembarque experimentam uma sensação de balanço ou instabilidade constante quando estão em terra firme e seus sintomas melhoram quando estão em um veículo em movimento.
Neste artigo, falo sobre esse quadro intrigante, suas causas, suas características e tratamentos indicados. Continue a leitura para conferir!
Conteúdo:
- O que é mal do desembarque?
- Quais são os sintomas do mal do desembarque?
- Como é feito o diagnóstico do mal do desembarque?
- Como é feito o tratamento do mal do desembarque?
- Quem sofre ou já sofreu com mal do desembarque pode viajar?
O que é mal do desembarque?
Mal do desembarque, ou Mal de Débarquement, é um distúrbio neurológico caracterizado pela sensação constante de balanço, oscilação ou instabilidade após a exposição ao movimento passivo. O quadro geralmente começa após uma viagem de navio, avião, trem ou carro e, mais raramente, após o uso frequente de elevadores ou de dispositivos de realidade virtual.
Uma característica muito importante desse quadro é que as pessoas com mal do desembarque costumam sentir melhora ou completo alívio dos sintomas quando se expõem novamente ao movimento passivo (andando de carro ou de avião, por exemplo).
É como se o sistema vestibular (conjunto de componentes na orelha interna relacionado ao equilíbrio e suas conexões cerebrais) se habituasse ao movimento do veículo utilizado e, após o desembarque, não fosse capaz de se readaptar ao ambiente estabilizado, gerando tontura em terra firme.
No vídeo abaixo, produzido pela MdDS Foundation, o quadro é muito bem ilustrado com a história de uma mulher que vive como se estivesse constantemente sentada em um cavalinho de balanço. Vale a pena conferir.
As causas do mal do desembarque ainda não são totalmente esclarecidas. Embora ocorra em pessoas de todas as idades e sexos, parece haver uma prevalência maior em mulheres adultas de 40 a 60 anos com sintomas ou histórico de enxaqueca.
A maioria dos pacientes melhoram completamente após algumas semanas, no máximo. Entretanto, algumas pessoas apresentam quadros persistentes que podem durar anos, caso o tratamento correto não seja providenciado.
Quais são os sintomas do mal do desembarque?
O mal do desembarque é relatado de diversas formas. Os pacientes apresentam uma sensação de balanço, oscilação ou instabilidade, sempre associada a uma ilusão de movimento. Em geral, porém, a tontura traz aspectos da experiência que desencadeou o problema.
Outros sintomas podem vir associados, como náusea e vertigem visual (a tontura piora em locais movimentados ou com muitos estímulos visuais, bem como ao assistir cenas de ação em filmes ou observar muitas luzes piscando). Fadiga, ansiedade e dificuldade de concentração são também sintomas comumente observados.
Na maioria dos pacientes, a sensação de balanço começa logo após cessar o movimento passivo (no desembarque), mas há casos em que há um intervalo entre o fim da viagem e o início dos sintomas.
Como é feito o diagnóstico do mal do desembarque?
Não há nenhum exame ou teste específico capaz de identificar o mal do desembarque. O diagnóstico é clínico, ou seja, depende, principalmente, da história contada pelo paciente no consultório.
Além da avaliação médica, exames podem ser solicitados para diagnóstico diferencial, cujo intuito é descartar outras possibilidades. O paciente com mal do desembarque geralmente apresenta exames normais, o que pode dificultar o diagnóstico e obrigar o paciente a consultar diversos profissionais em busca de ajuda.
Nesse tipo de quadro, é altamente recomendável procurar um especialista. No caso, o otoneurologista, que é o médico otorrinolaringologista dedicado às disfunções e doenças causadoras de tontura e zumbido. Por meio de um diagnóstico confiável, podemos traçar uma estratégia de tratamento eficaz para o problema.
- Saiba mais sobre otoneurologia em nosso artigo sobre o assunto!
Como é feito o tratamento do mal do desembarque?
Como dito, a maioria das pessoas que apresentam o quadro melhora espontaneamente dentro de alguns dias ou semanas. Em alguns pacientes, entretanto, o problema se instala de maneira permanente, afetando severamente a sua qualidade de vida.
Em geral, o tratamento para alívio dos sintomas no mal do desembarque é feito com uso de ansiolíticos (benzodiazepínicos) e antidepressivos, em especial os inibidores seletivos de recaptação de serotonina (ISRS).
Em alguns casos, é também indicado a estimulação elétrica transcraniana, bem como a reabilitação vestibular. O último consiste em exercícios de habituação no qual as situações que geram tontura são simuladas com intensidade progressiva a fim de fazer com que o cérebro se readapte às suas condições normais.
O tratamento, porém, deve ser sempre realizado com orientação e acompanhamento médico para garantir a sua eficácia e evitar a piora dos sintomas.
Quem sofre ou já sofreu com mal do desembarque pode viajar?
Como dito, ainda não se sabe exatamente o que provoca o mal do desembarque e por que algumas pessoas são mais propensas a desenvolver quadros permanentes. Entretanto, não há evidências ou relatos que nos permitam dizer que viajar de avião, barco, carro ou outros veículos agrave o quadro do paciente ou aumente as chances de reincidência.
O mais importante a saber é que o tratamento garante, senão a remissão completa dos sintomas, uma enorme melhora do quadro.
O mal do desembarque é uma síndrome pouco conhecida, mas que afeta muitas pessoas. Há pacientes que sofrem de tontura há anos por não obterem um diagnóstico preciso. Sendo assim, se você se identifica com os sintomas e experiências relatadas neste artigo, não deixe de procurar um otoneurologista!
Este artigo fica por aqui. Eu sou Nathália Prudencio, médica otoneurologista, e se você deseja saber mais sobre mim e sobre o meu trabalho, acesse meu perfil no Instagram e meu canal do YouTube!