As causas por trás da famosa labirintite emocional e por que você deve procurar um médico
Quadros de tontura e zumbido durante períodos de grande pressão, ansiedade e estresse são popularmente associados a uma suposta “labirintite emocional”. Fatores de ordem emocional isolados, porém, não são causas diretas para esses sintomas, embora funcionem como gatilhos para crises e influenciem a experiência de muitos pacientes.
A famosa “labirintite” surge quase instantaneamente no imaginário das pessoas diante de queixas comuns, como tontura, vertigem e perda de equilíbrio.
O termo é muito popular, mas a doença é pouco frequente no consultório. Várias disfunções e patologias podem estar associadas à alterações na audição e no equilíbrio.
Entretanto ― e esse é o esclarecimento que pretendo trazer neste artigo ― nenhum diagnóstico pode ser fechado tomando os transtornos do humor como a única causa dos sintomas.
Embora as emoções tenham um papel muito importante na experiência do paciente que vivencia esses quadros, podem existir causas subjacentes que precisam ser investigadas por um médico.
Se você chegou até aqui suspeitando de uma possível “labirintite emocional”, fique de olho! A seguir, trago alguns esclarecimentos importantes sobre isso.
Conteúdo:
- As emoções podem afetar a audição e o equilíbrio?
- Existe labirintite emocional?
- O que realmente pode causar labirintite?
- Quais são os sintomas da labirintite?
- Por que você deve procurar um otorrinolaringologista?
As emoções podem afetar a audição e o equilíbrio?
Sim. Sabemos hoje que o estado emocional do paciente, a presença de transtornos do humor e o estresse crônico podem desencadear uma série de alterações no organismo que são capazes de gerar manifestações físicas. Entretanto, devemos tomar muito cuidado para não confundir causas e consequências.
A relação entre transtornos de ansiedade, depressão e outras alterações importantes do humor têm sido frequentemente associadas ao surgimento ou agravamento de doenças. Durante o período de maior gravidade da pandemia de COVID-19, por exemplo, observamos um aumento das queixas de zumbido no ouvido.
Isso tem motivado cada vez mais médicos a adotarem abordagens multidisciplinares em seus tratamentos, a fim de atuar também na percepção e na vivência do paciente que lida com sintomas incômodos ou incapacitantes, em alguns casos.
Como otoneurologista, atendendo diariamente pessoas com queixas de tontura e zumbido, percebo claramente o quanto a atenção de diferentes áreas da saúde, como fonoaudiologia, psicologia, psiquiatria e fisioterapia, podem contribuir para o sucesso do tratamento e para a qualidade de vida do paciente.
Existe labirintite emocional?
É muito comum que doenças crônicas que causam tontura, como a Enxaqueca Vestibular, a Vertigem Fóbica (TPPP) e a Doença de Ménière, piorem diante de situações de maior estresse. De fato, o estado emocional do paciente pode piorar os sintomas ou até funcionar como gatilho para novas crises.
Isso não significa, entretanto, que as emoções são a única causa do problema. Normalmente, o paciente já apresenta uma série de predisposições para uma determinada doença, mas os sintomas só foram notados durante um momento de maior ansiedade ou estresse.
Isso é muito comum em casos de zumbido, por exemplo, em que a maior parte dos diagnósticos revela algum tipo de perda auditiva. Como o cérebro tende a reduzir a percepção de sons monótonos, pode levar algum tempo até que o ruído seja notado como um incômodo ― o que geralmente acontece em períodos de instabilidade.
Por isso, é tão comum que o paciente tenha a primeira percepção do zumbido ou passe a se incomodar com ele em situações mais estressantes e de maior demanda emocional.
A tontura, por sua vez, é frequentemente tida como algo comum com o passar da idade. Entretanto, em momentos de tensão, pode ser percebida em maior intensidade, induzindo o paciente a crer que o gatilho que provocou o sintoma é a sua causa.
O que realmente pode causar labirintite?
A Labirintite é uma infecção/inflamação do ouvido interno que acomete o labirinto, estrutura que controla a audição e o equilíbrio.
Em adultos, o quadro pode começar com um simples resfriado ou gripe comum. Já em crianças, geralmente surge em consequência de uma Otite Média Aguda.
Não há como afirmar, portanto, que existe uma “labirintite emocional”, uma vez que essa doença está ligada a uma infecção viral na maior parte dos casos.
Sabe-se, porém, que muitos pacientes com quadros acentuados de depressão e ansiedade se alimentam mal, não têm um sono de qualidade e se exercitam pouco, o que contribui para uma má saúde imunológica e, consequentemente, para uma maior vulnerabilidade à infecções.

Quais são os sintomas da Labirintite?
O diagnóstico de Labirintite é relativamente raro no consultório. Embora as pessoas sempre associem episódios de tontura com essa doença, o sintoma é geralmente provocado por outras patologias, muito mais frequentes, como a Vertigem Posicional Paroxística Benigna (VPPB) e a Enxaqueca Vestibular.
A determinação das causas da tontura depende muito mais dos sintomas associados a ela. No caso da Labirintite, esses sintomas são:
- vertigem;
- nistagmo (movimento involuntários dos olhos);
- suor excessivo;
- vômito;
- perda de audição;
- zumbido.
Um ponto importante é que, como o labirinto tem papel fundamental na função auditiva, é altamente improvável que um paciente com a doença não apresente nenhum tipo de sintoma relacionado à audição.
Por que você deve procurar um otorrinolaringologista?
A otorrinolaringologia é a área das ciências médicas dedicada às disfunções e doenças do ouvido, do nariz, dos seios da face e da garganta. Somente o médico otorrinolaringologista, portanto, pode avaliar os seus sintomas e determinar a sua verdadeira causa.
Em relação à labirintite, porém, você pode ter resultados ainda mais precisos consultando um otoneurologista, que é o otorrinolaringologista especializado em tontura e zumbido.
Isso não significa que tratamentos psiquiátricos e psicoterápicos são irrelevantes. Pelo contrário, é fundamental que o quadro do paciente seja acompanhado sob todos os ângulos, especialmente quando verificada a influência de fatores emocionais na experiência do paciente com a doença.
O incorreto é correlacionar ansiedade, depressão ou estresse à labirintite, de maneira isolada. Na maior parte dos pacientes, mesmo diante de fatores emocionais importantes, a tontura ou o zumbido surgem em decorrência de outras causas. É fundamental, portanto, investigar a verdadeira origem dos sintomas.
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