Síndrome da Terceira Janela (Síndrome da Deiscência de Canal Semicircular Superior): o que é, causas, diagnóstico e tratamento
Síndrome da Terceira Janela (geralmente associada à Síndrome da Deiscência de Canal Semicircular Superior ou SDCSS), é um quadro raro em que há um desgaste ou uma abertura (deiscência) na camada óssea que reveste o canal semicircular superior ou anterior do labirinto. Em alguns pacientes, observamos a ausência desse revestimento.
Neste artigo, quero esclarecer um quadro raro que também traz tontura, perda auditiva e zumbido no ouvido como sintomas, assim como vários outros diagnósticos já tratados aqui no blog.
Por ser uma condição pouco comum, a Síndrome da Terceira Janela, muitas vezes, passa despercebida pelos médicos. Isso quando não é associada indevidamente a sintomas que podem estar sendo desencadeados por outros tipos de disfunções e doenças.
Se você realizou algum exame de imagem que apontou deiscência de canal semicircular superior, continue comigo para entender exatamente o que isso significa.
Conteúdo:
- O que é Síndrome da Terceira Janela?
- Quais são as causas da Síndrome da Deiscência de Canal Semicircular Superior?
- Como é feito o diagnóstico da SDCSS?
- Como tratar a Síndrome da Terceira Janela?
O que é Síndrome da Terceira Janela?
A Síndrome da Terceira Janela pode ser causada por diferentes doenças, porém aqui falaremos da Deiscência de Canal Semicircular Superior, que é uma condição rara causada por uma falha óssea no canal semicircular superior do labirinto ― estrutura do ouvido interno responsável por detectar acelerações angulares da nossa cabeça.
Essa “falha” pode se apresentar como um desgaste ou uma abertura completa (chamado de deiscência), geralmente causada por uma má formação.
O interior do labirinto contém um líquido chamado de endolinfa, cuja movimentação e pressão geram sinais elétricos usados pelo cérebro para coordenar a nossa posição e o nosso equilíbrio.
Nesse mesmo sistema, existem duas válvulas, chamadas de janelas redonda e oval, responsáveis, entre outras funções, por regular a pressão da endolinfa, que, por sua vez, atua transmitindo a energia dos estímulos mecânicos de uma parte para a outra.
Quando há uma outra abertura nesse sistema, o mecanismo pode ser prejudicado e gerar os sintomas relatados pelos pacientes. Por ser uma terceira abertura, o quadro é conhecido como Síndrome da “Terceira Janela”.
Quais são as causas da Síndrome da Deiscência de Canal Semicircular Superior?
Excluindo-se os casos em que a deiscência é causada por um trauma na cabeça, como um traumatismo craniano, o mais provável é que o quadro (assim como a sua severidade) esteja ligado a fatores genéticos.
Os dados disponíveis sugerem que a prevalência da deiscência total do canal semicircular superior gire em torno de 0,7% da população. Além disso, cerca de 1,3% da população apresenta essa camada óssea com espessura inferior a 0,1mm, o que já é considerado deiscência nos exames de imagem.
Como é feito o diagnóstico da SDCSS?
Muitos pacientes descobrem a Deiscência de Canal Semicircular Superior ao realizar algum exame de imagem para outros fins diagnósticos e, por vezes, tomam esse achado como a causa do seu problema, o que nem sempre é verdade.
É importante destacar que muitas pessoas, mesmo apresentando essa alteração no labirinto, não terão sintomas ou alterações clínicas relacionadas. Só tomamos o caso como síndrome, de fato, quando identificamos sinais ou sintomas típicos, como:
- perda de audição do tipo condutiva (quando há problemas na condução das ondas sonoras pela orelha externa e média) confirmada por audiometria;
- tontura ou nistagmo desencadeados por estímulos (como esforço físico ou exposição a sons altos), que cessa quando o estímulo é interrompido;
- zumbido pulsátil (som de pulsação sem uma fonte sonora externa);
- autofonia (ouvir sons do próprio corpo, como da mastigação de alimentos ou dos próprios passos).
O paciente não precisa apresentar todas essas alterações, mas esperamos encontrar pelo menos uma delas para considerar a possibilidade de SDCSS. O diagnóstico também depende da história clínica do paciente e do exame físico, bem como de outros exames e testes que julgamos necessários para o diagnóstico diferencial (quando o objetivo é descartar outras possibilidades).
Por se tratar de uma síndrome rara e com manifestações variadas que se assemelham muito a outras doenças, seu diagnóstico pode ser desafiador. Por isso, é sempre recomendável procurar um especialista.
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Como tratar a Síndrome da Terceira Janela?
O tratamento da SDCSS é baseado no tipo de sintoma apresentado, sua intensidade e seu impacto na vida do paciente. Pacientes assintomáticos geralmente não necessitam de nenhuma intervenção.
Pessoas que apresentam quadros leves são geralmente orientadas a evitar os estímulos que desencadeiam os sintomas e medicamentos podem ser prescritos para aliviá-los.
A cirurgia só é considerada em quadros cujos sintomas são incapacitantes e a decisão pela realização do procedimento deve avaliar condições e riscos envolvidos nessa intervenção.
O procedimento cirúrgico pode envolver a correção da deiscência do canal semicircular superior por meio de enxerto ósseo e fascia temporalis ou a obliteração total do canal com massa óssea, encerrando-o completamente.
A Síndrome da Terceira Janela, portanto, é um quadro que merece atenção, mas que conta com diversos recursos para tratamento. E, como dito, a presença de deiscência apontada nos exames de imagem não confirma a síndrome, uma vez que o diagnóstico também depende de outros fatores, como a presença de sinais e sintomas típicos do quadro.
Ao observar manifestações semelhantes às descritas aqui ou observar esse achado nos seus exames, não deixe de consultar um médico especialista.
Este artigo fica por aqui. Eu sou Nathália Prudencio, médica otoneurologista, e se você deseja saber mais sobre mim e sobre o meu trabalho, acesse meu perfil no Instagram e meu canal do YouTube!