Doutora, tontura pode ser um sinal de doença de Parkinson?

A tontura pode ser um sintoma que acompanha os pacientes com Parkinson, mas nem sempre é um indicativo certeiro da doença. Entender como é a tontura no Parkinson e reconhecer seus demais sintomas pode ser o diferencial para o tratamento precoce, que melhora o prognóstico para o futuro.
Muitos pacientes diagnosticados com Parkinson relatam a tontura como um sintoma recorrente, além dos sinais mais clássicos da doença ‒ que incluem tremores, rigidez e dificuldades de locomoção.
A tontura por si só, no entanto, não necessariamente é um sinal indicativo do Parkinson, já que pode fazer parte do conjunto de sintomas de outras condições e pode também se manifestar isoladamente e não ser sinal de qualquer doença ‒ como quando ficamos muito tempo sem comer.
Você deve estar se perguntando, “Doutora, mas então como saber se minha tontura deve despertar preocupação? Como saber se pode ser Parkinson?” ‒ e eu te respondo: a chave é perceber os sintomas que ocorrem com a tontura e buscar atendimento médico especializado se perceber esse sinais.
Neste artigo, te ajudo a entender melhor como é a tontura na doença de Parkinson e quando é o momento ideal para buscar atendimento médico. Vamos lá?
Conteúdo:
- Quem tem Parkinson tem tontura?
- Como é a tontura da doença de Parkinson?
- Por que ter tontura não significa ter Parkinson?
- Quais são os principais sintomas da doença de Parkinson?
- Como é o tratamento da doença de Parkinson?
- Quando procurar um médico e qual médico procurar?
Quem tem Parkinson tem tontura?
De forma geral, a tontura é um sintoma prevalente em 48% a 68% das pessoas com Parkinson já diagnosticado, seja como resultado das alterações degenerativas da própria doença, seja como uma consequência da medicação utilizada no tratamento.
Essa tontura deve, principalmente, à hipotensão ortostática, que é aquela queda abrupta da pressão arterial quando o paciente se levanta rapidamente.
Nesse caso, pode acontecer devido a um mal funcionamento do sistema nervoso autônomo — que é o sistema que controla nossa pressão arterial, frequência cardíaca e o movimento intestinal — que favorece o quadro que chamamos de tontura ortostática, aquele desequilíbrio ou escurecimento visual repentino quando mudamos da posição sentado ou deitado para de pé.
Contudo, embora alguns estudos estejam começando a entender que a tontura pode ser um sinal precoce do Parkinson, nem todas as pessoas com tontura têm ou terão Parkinson ‒ como nem todas as pessoas com Parkinson obrigatoriamente apresentam tontura.
Precisamos levar em conta que o paciente com Parkinson geralmente é um indivíduo na terceira idade, fase na qual vários outros quadros associados à tontura tornam-se também mais comuns.
Se você tem apresentado episódios recorrentes de tontura, o mais indicado é buscar atendimento médico com um otoneurologista ou neurologista para investigar as possíveis causas do sintoma, que podem incluir diversas outras condições além do Parkinson.
Como é a tontura da doença de Parkinson?
A instabilidade postural é um dos sintomas motores mais angustiantes na Doença de Parkinson e aumenta significativamente o risco de quedas.
Aproximadamente 70% dos pacientes com a doença caem pelo menos uma vez por ano, e isso pode ocorrer por uma de hipofunção vestibular — o sistema vestibular é o sistema que compreende o labirinto e as estruturas dentro do cérebro responsáveis pelo equilíbrio, como o tronco cerebral —, causando alterações que podem provocar tanto problemas na correção da postura quanto na movimentação ocular dos pacientes.
Alguns estudos mostram que os episódios de tontura em pessoas com Parkinson tendem a ser tipicamente curtos e frequentes, com duração de segundos a minutos, e ocorrem várias vezes em um mesmo dia ou ao longo da semana.
O tipo mais comum de tontura nesses casos é a já citada tontura ortostática, mas outras possibilidades devem ser investigadas.
Por que ter tontura não significa ter Parkinson?
Pessoas na terceira idade também estão mais propensas a desenvolver problemas que provocam tontura e que não estão relacionados ao Parkinson, como a VPPB (vertigem posicional paroxística benigna), conhecida como “tontura dos cristais”.
A VPPB ocorre com o desprendimento de alguns cristais, chamados otocônias, que normalmente estão no ouvido interno e mantém contato com a endolinfa (líquido aquoso contido no interior do labirinto) para informar o cérebro sobre o posicionamento do corpo e da cabeça do indivíduo no espaço. Na VPPB, alguns desses cristais se desprendem e podem enviar informações confusas ao cérebro, ocasionando a vertigem.
Além das doenças, a tontura é também um efeito adverso bem conhecido da medicação dopaminérgica utilizada no tratamento do Parkinson, bem como medicações para controle da pressão arterial.
Quais são os principais sintomas da doença de Parkinson?
A doença de Parkinson é uma condição neurodegenerativa que atinge uma porção do cérebro chamada de “substância negra”, local onde se produz diversos mediadores químicos, com destaque, neste caso, para a dopamina.
Este neurotransmissor desempenha diversas funções no corpo e no comportamento, incluindo o humor, a coordenação de movimentos voluntários, a locomoção e a propriocepção (a capacidade em reconhecer a localização espacial do corpo, sua posição e orientação).
Com a diminuição gradual da dopamina em decorrência da degeneração da substância negra, o paciente apresenta uma gradual perda do controle sobre os movimentos voluntários, o que leva aos sintomas mais típicos do Parkinson: tremores, rigidez muscular, lentidão nos movimentos, desequilíbrio e tontura (instabilidade postural).
Nesse sentido, os problemas secundários do Parkinson também demandam cuidado e podem caracterizar os prejuízos sobre a qualidade de vida dos pacientes. O risco de quedas em idosos, como dito, têm consequências mais graves e é aumentado pela perda de controle sobre os movimentos voluntários.
Como a dopamina também participa do controle do humor, é frequente que as pessoas com Parkinson também tenham mais chances de apresentar distúrbios associados à depressão e ansiedade.
Como é o tratamento da doença de Parkinson?
Para o tratamento do Parkinson, abordagens terapêuticas integradas e multidisciplinares são utilizadas para melhorar a qualidade de vida dos pacientes, abordando não apenas os sintomas motores, mas também os desafios diários associados à doença.
O tratamento farmacológico é a primeira opção, com medicamentos que interferem na produção de dopamina e ajudam a aliviar os sintomas motores da doença. Em alguns casos, quando os medicamentos não são suficientes, a cirurgia também pode ser considerada.
Paralelamente, algumas abordagens terapêuticas complementares podem ser essenciais no manejo de aspectos específicos do Parkinson.
A fisioterapia é uma delas, pois melhora a mobilidade, o equilíbrio e a coordenação, ajudando os pacientes a manter a independência em suas atividades diárias, assim como a terapia ocupacional, que auxilia na adaptação das rotinas e ambientes para a realização das tarefas cotidianas de forma eficiente e mais segura.
Para os pacientes com dificuldades na fala e na deglutição em decorrência do Parkinson, a fonoaudiologia pode ser indicada, criando condições para melhorar a comunicação e a alimentação, diminuindo o impacto da doença na qualidade de vida do paciente.
Quando procurar um médico e qual médico procurar?
Os médicos mais indicados para avaliar a doença de Parkinson são o neurologista e o otoneurologista (quando a tontura está presente no quadro).
É importante procurar atendimento assim que perceber os sinais e sintomas indicativos da doença. O médico realizará uma avaliação detalhada, solicitará os exames necessários e iniciará o tratamento adequado o quanto antes — reforçando que, especialmente em doenças degenerativas, o diagnóstico e o acompanhamento precoce é fundamental para estender ao máximo a independência e a qualidade de vida do paciente.
Em situações onde há histórico familiar para Parkinson, consultas preventivas podem ser úteis para discutir o risco, avaliar medidas preventivas possíveis e garantir um diagnóstico precoce ‒ o que sempre resulta em um melhor manejo da doença, caso seja identificada.