Enchendo uma taça de vinho - Tontura e álcool

A tontura após o consumo de álcool é comum, mas quando persistente, pode indicar problemas de saúde importantes, além de afetar a coordenação e aumentar o risco de quedas e acidentes.

Embora as reações ao álcool possam variar entre as pessoas e também de acordo com o teor alcoólico de cada tipo de bebida, os sintomas gerais do uso são bastante conhecidos. Além da tontura, temos também a visão dupla, a desinibição e a diminuição da precisão motora (o famoso andar cambaleante).

Cada sintoma está associado a alterações específicas, principalmente no sistema nervoso, mas também nos sistemas digestivo, excretor e vestibular — como é o caso da tontura, assunto deste texto.

Nos tópicos a seguir, explico como o álcool age no organismo, porque ele provoca alterações na percepção e no equilíbrio, e o que fazer quando a tontura persiste, mesmo após a interrupção do seu uso. Trago também dicas para prevenir e cuidar desse tipo de sintoma!

Conteúdo:

O que acontece no corpo quando consumimos álcool?

O álcool é uma substância, ao mesmo tempo, lipossolúvel (que se dissolve na gordura), hidrossolúvel (que se dissolve na água) e psicotrópica. Vamos entender o que tudo isso significa.

Quando bebemos, boa parte do álcool ingerido é absorvido já no estômago — chegando na corrente sanguínea e seguindo direto para o sistema nervoso central —, enquanto uma parte menor dissolve-se na gordura e nos carboidratos dos alimentos que estão sendo digeridos, seguindo sem efeitos para o intestino.

A parte do álcool que chega ao cérebro altera os comportamentos controlados por regiões específicas, que incluem:

  • a neurohipófise: que controla a liberação de diversos hormônios, como o ADH (hormônio antidiurético), produzido pelo hipotálamo, e que atua nos rins, comandando a frequência e a quantidade de urina expelida;
  • o córtex pré-frontal: que está ligado à capacidade de julgar e tomar decisões, fazendo com que possamos ficar mais desinibidos e impulsivos;
  • o hipocampo: que armazena as memórias explícitas, ou seja, as que são guardadas conscientemente, como a festa do dia anterior;
  • o cerebelo: que participa da coordenação motora, do equilíbrio e da espacialidade do corpo.
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Esses efeitos neuronais acontecem rapidamente e o álcool segue, ainda pela corrente sanguínea, para o fígado, onde é metabolizado em outras substâncias que podem ser expelidas pela urina.

Por que o consumo excessivo de álcool causa tontura?

Nesse contexto, a tontura — que pode se apresentar como um desequilíbrio, uma instabilidade ou a famosa vertigem (sensação de ver tudo movimentar ou girar) — está associada tanto à desidratação quanto às alterações cerebrais produzidas pelo álcool.

Quando o álcool inibe a liberação de ADH, na hipófise, isso prejudica nossa capacidade de concentrar a urina e reabsorver o máximo de água possível nos rins, levando à desidratação. Por isso é comum sentir sede durante e após o consumo e também ir com mais frequência ao banheiro, urinando um volume normalmente maior.

Contudo, uma outra consequência da desidratação é a alteração na densidade dos líquidos gerais do corpo, inclusive a endolinfa, que preenche o labirinto e a cóclea — partes do ouvido interno responsáveis pelo equilíbrio e pela audição. 

A endolinfa ajuda as estruturas do ouvido interno a perceber e transmitir ao nervo todas as informações sobre os movimentos corporais, mas, quando mais densa, a endolinfa perturba a precisão e a velocidade dessa comunicação — essa é uma das razões pelas quais o paciente pode relatar vertigem. 

Além da desidratação, a tontura também é resultado da diminuição da atividade do cerebelo, estrutura que, entre várias outras funções, está associada ao equilíbrio e à coordenação dos movimentos. 

O consumo de álcool faz mal para os ouvidos?

São chamadas ototóxicas — ou seja, tóxicas aos ouvidos — as substâncias capazes de alterar as funções do equilíbrio e da audição, direta ou indiretamente. Medicamentos quimioterápicos e antimaláricos, por exemplo, tem alto potencial de ototoxicidade.

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Em literatura, já temos alguns estudos comparando exames auditivos entre indivíduos que fazem alto consumo álcool e indivíduos com consumo moderado ou inexistente, sugerindo que pacientes com um consumo frequente e elevado apresentam maiores alterações prejudiciais.

Entretanto, essa relação ainda é controversa e são necessários mais estudos para confirmar e explicar exatamente os efeitos do álcool no sistema vestibular.

De maneira geral, porém, o consumo em excesso de álcool é desaconselhado, especialmente para pacientes que já apresentam zumbido e tontura. Essas pessoas podem ser mais sensíveis às alterações vestibulares associadas, mesmo com consumo esporádico.

Como melhorar a tontura da bebida? 

Quando se trata de aliviar e até mesmo prevenir a tontura causada pelo consumo de álcool, dois elementos são fundamentais: hidratação e alimentação.

Principalmente por seus efeitos sobre o ADH, o álcool desidrata o corpo como um todo, e por isso é importante repor os fluidos perdidos antes que a desidratação aconteça. Uma boa forma de fazer isso é alternar entre água e bebidas alcoólicas, durante o consumo, para ajudar a manter o equilíbrio hídrico do corpo.

Além da hidratação, é essencial se alimentar antes de consumir bebidas alcoólicas, já que o alimento em digestão diminui a absorção do álcool no estômago, como explicado anteriormente.

Mesmo após o consumo exagerado de bebidas, na ressaca, beber água e fazer refeições ricas em nutrientes são atitudes que costumam ajudar na recuperação e reduzir a sensação de tontura. 

Que sinais merecem atenção?

A tontura do álcool em pessoas sem sintomas prévios deve passar em algumas horas após a interrupção do consumo — embora esse tempo possa variar de acordo com diversos fatores, como a quantidade de álcool consumida e a tolerância individual aos efeitos da bebida.

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Porém, se essa sensação persistir por um período prolongado, é importante verificar a possibilidade de algum problema subjacente que pode ter sido evidenciado pelo consumo de álcool. O mesmo vale para o zumbido no ouvido que, caso persista após a ressaca, também deve ser investigado por um médico.

É sempre importante lembrar que mesmo quanto temporária e autolimitada, a tontura pode ter consequências sérias, aumentando significativamente o risco de quedas e acidentes. Além de beber com responsabilidade, as festas e eventos também exigem outros cuidados. Um deles, inclusive, é muito pouco falado: a audição. 

Continue no blog e confira nosso texto com 5 cuidados para proteger a audição no carnaval, que valem para o ano inteiro!

 


Sobre Dra Nathália Prudencio

Dra Nathália Prudencio é médica otoneurologista, especialista em tontura e zumbido. Saiba mais
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